Hoje é dia dos pais. Há 18 anos atrás eu fui em Ipameri pela última vez passar este dia com o meu pai. Sempre fui, aliás, sempre ia.
Fazem 17 anos que meu pai partiu para a pátria espiritual, nossa verdadeira morada.
Sinto saudades dele. Não como eu sentia nos primeiros tempos de sua partida, pois naquela época era uma saudade misturada com uma sensação de “ontem ele estava aqui” e agora é uma saudade com a certeza de que ele às vezes está aqui.
Meu pai sempre foi muito presente em minha vida. Sabia me ouvir mesmo que eu estivesse calada, me mostrava que eu podia ir além dessa realidade tão limitada e pequena em que vivemos. Me ensinou que não devemos nos render aos contratempos.
Ele não me deixou herança material e se tivesse deixado provavelmente já teria acabado.
Sonhei com ele várias vezes, já acordei sentindo ainda o calor de seu abraço, um abraço que em vida não nos demos. Ele já me contou em sonho como foram seus últimos momentos, me abraçou em momentos difíceis, me deu e ainda dá forças quando algum filho adoece como fazia quando ainda caminhava conosco.
Defeitos, quem não os tem? Virtudes? Quem de nós não tem muitas delas? Com todos os defeitos que temos, meu pai conseguia ter olhos para ver as virtudes das pessoas. Nunca mediu esforços para levantar durante a noite para ir socorrer algum doente ou aplicar uma injeção.
Às vezes ele me irritava quando bebia, mas como minha mãe sempre nos dizia: tínhamos que relevar esse vício nos lembrando que ele era um homem bom.
Sei que hoje eu não posso ir a Ipameri passar este dia com ele, mas sinto com muita certeza que ele virá aqui passar um minutinho do dia comigo.
Hoje eu entendo que ele partiu para efetuar novos vôos e já que não posso mais dar a ele o perfume que ele gostava ou uma camisa moderna, ofereço essa música cuja letra tem muito a ver com seus pensamentos sobre o ser divino que somos todos nós.
Beijão pra meu pai...
Asas Cortadas
Jorge Vercilo
Composição: Jota Maranhão e Jorge Vercilo
Eu, pássaro perdido
Que avoou sem medo
Quando era menino
Sério, eu chego a me lembrar
e logo chega o mundo
Pra intimidar
Eles gritam e conseguem me assustar
Eu me sinto gaivota sobre o mar
Que afundou as asas nas manchas de óleo ao mergulhar
E agora não consegue mais voar
Um dia eu vou voar
Sei, sei tudo que posso
Mas vem essa lei
e impõe o ócio
quem tem um olho é rei
Se eu desafiar, incomodarei
Vez em quando bate um vento por aqui
Abro as minhas asas pra tentar subir
Mas com tanto tempo preso a essas grades, me esqueci
E agora tenho medo de cair
Tiê,
Venha das alturas me salvar
No maciço da Tijuca pousará
Onde as nuvens se debruçam
E eu não canso de esperar
Sua liberdade me libertará
Abra as suas asas
Vai sem medo, vai
Vai ganhar o céu
Quem provou da liberdade
não terminará
Preso as próprias grades
Um dia eu vou voar
Eu já vivi no ar
Vem me ver voar
Vem me ver voar
Nenhum comentário:
Postar um comentário